22.03.08 - 20.53h: Hallelujah




A noite da paixão foi feita de copos com as amigas, sob uma lua cheia brilhante num céu limpo e frio, junto ao guadiana - primeiro na mesquita a ver espanha e o vazio do festival de peixe do rio, segundo nos bares de mértola cheios da pouca gente (muitos visitantes pascais) - em conversas sobre a lentidão evolutiva nas normas vigentes dos requisitos arquitectónicos em certos municípios (dependentes da quadratura das cabeças dos senhores feudais - e o pior são os caixilhos que imitam mal à madeira); também sobre o auto-conhecimento dado pelos relacionamentos "estáveis" (a sabedoria que advém do respeito pelas diferenças de tempos utilizados na construção de percepções, racionalizações, base de decisões... e um equilíbrio de humores... e ouvir, ouvir sempre, questionar depois - e dizer, dizer sempre o que sentes).



E se estiveres numa praia das astúrias e sair um surfista da água, direito a ti, e te reconhecer a vários anos e milhares de quilómetros da situação de encontro anterior; e se, ao fechares o compartimento para guardar bagagens. na estação de comboio de atocha, reconheres, ao teu lado, a professora de alemão que tiveste em amesterdão há três anos atrás; e se no meio de um souk reconheceres o teu amigo de infância que não vias desde essa altura; e se ao desceres da galeria onde expuseste os quadros que levas debaixo do braço e encontrares alguém do teu país, que morava na mesma residência de estudantes que tu mas que nunca falaste, há mais de uma década? Muitos fios que se cruzam e que são puxados sem que percebas... e tu és um deles.



A quem agradecer? Ao sacrifício de Holika (a vitória do bem contra o mal), ao mal-afamado Judas que não aguentou a fidelidade à verdade da mentira e se enforcou numa olaia (libertação do espírito da prisão carnal), à figura andrógina da última ceia - joão ou madalena - bem-amada do nosso mais louco senhor feito homem (irmãos, amantes - amor e ódio) que nos pôs há dois mil anos (romanos) a pensar em PAZ universal.



Também se celebrou ontem o norduz - novo ano curdo - uma festa abafada de um povo esquecido que vive nas montanhas, que fala a língua dos medos e professa o culto dos anjos, massacrado e dividido ao longo dos séculos... Não querendo entrar em polémicas de fé, ainda encolhido nestes dias de frio e chuva, espero que possamos sempre relativizar as nossas prespectivas pessoais (vendo o outro, o mais radical que também vive em nós), compreender as diferenças e celebrá-las na vida, no colectivo, todos, sempre. (Amen)

Sem comentários:

Correntes