Domingo votei, mas a abstenção superou expectativas (não há consciência cívica neste ´território, as pessoas não querem pensar)
Fui até lisboa; subi ao príncipe real ver os restos do arraial. alguém me seduziu
telefonei a olhar para ele: quando falámos e ele me disse o nome,eu
"espera, tu és o arquitecto e tens uma casa lindíssima ali para baixo.
faz um ano que nos encontrámos".
Fodemos. (ainda hoje me doem os mamilos)
o fascínio acabou. não tenho calma.
o mês acabou. não tenho pressa.
Quero viver (ainda) e esperar
até ter calma.
o reposteiro de veludo carrega o ar de poeira - irrespirável.
Toda a casa está vazia e cada vez mais pesada.
a lareira aquece demasiado as paredes escuras - insuportável.
Nada do que ali está me pode impedir de sair.
O meu pensamento está sufocado.
a claustrofobia da casa alta agarra-me e amarra-me ao soalho.
os lençois velhos sobre os sofás amordaçam-me e atam-me ao lustre.
uma fagulha salta para os lençois ardo numa suave e lenta combustão...
Estou livre!
>(fui interrompido na escrita pelo telefone. era a mãe - estava sozinha em casa e lembrou-se de mim. perguntou-me porque e que nunca penso nela. nunca lhe ligo. é verdade. mas como é um dado adquirido... tem aquela certeza para toda a vida. e sabes que daquele corpo e daquela alma - daquela maravilhosa pessoa, podes sempre contar com o infinito amor por ti)
( de novo interrompido, desta vez pelo rui. vem amanhã e convidou-me para ir à sessão da meia-noite. perguntou-me se eu estava bem. disse que mais ou menos, mas para vir. precisamos de falar, não quero magoá-lo)