Estou no cabeleireiro da estação do oriente. Uma guitarra toca o cielito lindo e afins flamencos, e o rapaz de óculos, todo de preto, escova suavemente a cabeça de um senhor com mechas brancas. A cortar estive eu, bobines intermináveis e rasgar selos do IGAC, ensacar dossiers e à tarde, todos a carregar sacos para a recolha. Ontem um mail - actualizações de alguns anos, a mágoa das cidades distantes, o amor único.
Estas viagens de comboio matinais trazem-me de regresso a lisboa, ao verdadeiro sentido urbano que tive nove anos, esta lufa-lufa de multidões aos magotes, cuspidos à hora de ponta e ao almoço. O cimento, a chuva e a ausência de cor, o moderno, o estilo e o brilho, a velocidade e o bate-papo de circunstância em banais momentos de convívio.
Entar pelo lado dos homens e não das senhoras (como eu fiz!) e aguardar enquanto escrevo no bloco. A clau não sabe do bisnog, ele não atende (estou preocupado!), a mãe informa que chegou o aviso de recepção da câmara de loulé, a rita confirma os valores a pagar antes de sair da inde; à noite bissa e lols para um programa qualquer.
A destruição está quase a terminar e pedem-me para catalogar o novo (e curto) arquivo. Que necessidade têm os chefes de destratar subalternos? A afirmação de poder? Palhaços (sem ofensa para os próprios - hoje, a meio da manhã sobre a redução de custos). O problema é que até aqui se passa o mesmo: os tios campónios do rapaz aparecem par cumprimentar e ele tem de ouvir as bocas irónicas da gaja da caixa.
Enfim, a nossa animalidade e estupidez sai pela boca sem controlo.
Post Scriptum: No final do dia, leilão entre funcionários e mini-rave. Deram-me alguns singles e colectâneas, como este:
Hot Chip - Ready for the Floor