(Ontem, com a moca sem cedilha, ainda desimpedi o corredor e organizei a despensa – tenho de pintá-la)
Compro pão à pressa (09.30) para tirar o carro do sítio mas vejo que está bem e fica lá até ao almoço (milho e ovo cozido, queijo fresco e cebola – branco e amarelo como a cozinha!), depois do banho; banco e café. De classe f.m e programa no bolso, vamos ao encontro em sítio do costume, sob os jacarandás, seguimos o rato pela estrela até aos frigoríficos de alcântara. Como merchandising temos bonecas estilizadas japonesas, descemos ao bar na cave mas não ficamos. Encontro surpresa no CCB com ding ling a corrigir meninos, debate educacional, pallmall s.f e mortalhas com mandril; meia de leite, pastéis de belém e descubrimos que a revista sobre design influente é toda em italiano. Ultrapassa-nos à saída do passadiço inferior um bando de psp’s em jogging e calção de licra. Seventies a rockar – deixo a ana e o frank não me pode receber pois tem a sala cheia na alfândega.
Lembrança do aladan, vou ao bacalhoeiro ( já não sabia porque gostava tanto deste sítio): lomos na parede, jovens ligados à sua própria rede navegam em harmonia sóbria num reggae com balanço feliz – soa o tema do windows a iniciar/encerrar... Agora beastie boys: levam-me para o salão de festas para poder fumar (19.30), está uma rapariga a dormir nos sofás do canto; abro a janela lentamente e enquanto escrevo, ela acorda, travamos um breve diálogo e começa a limpar a arca de madeira que serve de apoio. Bossa nova, anoitece. Ontem trouxe-me aqui para ver e recordar alfama, onde cursei e me perdi seis anos. Relva fresca, ar puro, avanço. Turistas enchem as praças, pedem direcções, a polícia impede a passagem no jardim do tabaco e após chafariz d’el rey, preparam a prova LisbonDownTown. Largo de são miguel, subo até ao adicence para café, vejo os maus tratos a idosos, mas não o senhor manel e a dona amália. Saio a assobiar, já quase na penumbra, por entre o jogo de futebol de bairro dos miúdos, sob a parreira.
O eléctrico faz-me uma rasia, as luzes da ponte no fio da paisagem, engarrafa-congestiona-mento aos restauradores – Liberdade! A loli não vai sair e nós repetimo-nos; subterrâneo em espera, coleguices na bica, congratulo as duas mães dos bares da frente, percorro o interior das vidas em casas fechadas, fiéis ao bairro com shots de fruta, gereberas vermelhas para todos (bascos e galego), até ao taxi com atalho de foxtrot, pausa suave, o ex-do-ex-de mikonos veio ver-nos e, acidentalmente, esbarramos um no outro, não nos largamos até à manhã seguinte – almas puras – finex, politécnica, front sit... Da casa de banho, o centro desportivo da mouraria (existe!) e do quarto o torreão de baixo na primeira imagem da primeira parte deste post: adar, adar, pões-me a navegar, e eu que ganhei medo no mar...
Café e Cigarros
16.05.08 - 13.12h: Lisboa, Menina e Moço I
Ilustração de Marcos Oliveira
Ontem foi folga da ana. Em mais um dia estremunhado, vou buscá-la na sua calçada depois de muitos transportes matinais para vermos bonecos (eu já explico). Spinning around inicial: avenida do almirante, londres e roma, virando na monumental estátua do padroeiro, infiltrando-nos nos bairros do estado novo. Sob o guarda-chuva da missão – presidência portuguesa do conselho da união europeia – de cabo cor-de-laranja e logotipo pago, lanchamos na tatu da aldeia, falamos da propensão humana para a empatia, passeamo-nos nas entre-ruelas, aguardando a pipa. Mais gatos, vemos abordagens estúpidas em séries juvenis e os avanços da vida. Já tetra-hidra-canabinados, circulamos inversamente até à alameda do fundador deste país: um miradouro inesperado sobre a fonte luminosa desperta-nos pela luz mortiça e aguaceiro miudinho com vista para o técnico. Descemos a escadaria, e uma atracção da infância leva-nos à descoberta de um playground para crescidos – oferecemo-nos alegria, memória e movimento, às voltas com o nosso corpo, suspensos no tempo. Jantamos debaixo do império e seguimos para o Maria Matos.
Queríamos o programa do júri – os melhores do animateka – no king, mas o prazer leva-nos à competição 03: a surpresa inicial de uma obra gráfica a preto e branco, de sequências sugestivas de sons sobre o coração da cidade e a sua sombra – becos e escadinhas levam o Homem por tascas sujas de fado, os carris acalcetados do eléctrico e o ruído dos cabos, as noites perdidas terminam nas mecânicas tipográficas e ardinas com boas novas, silvos e travessa ondulante do tejo num cacilheiro matinal – pelo meio uma pequena parábola com lua viajante em sonhos de meninos. Segue: um conto zen em russo para apresentar a vizinha coreia - primeiro plasticina, depois ilustração de recorte – do medo engrandecido do não ter à dádiva do partilhar até à eternidade; dois episódios de terror cómico sobre os riscos do próprio monstro, alertando para o perigo da insónia em frente ao televisor; num estilo oliveirista, uma cadência calma, sugestiva, aquática e muito feminina... sensualidade apresentada pela própria autora presente no público; uma portuguesa brinca com a imagética da palavra no discurso visual; uma espiral de rituais quotidianos e objectos a girar num vazio-vácuo aceleram, caricaturizando o destino final em escalada de caos e violência; humor negro atingindo as crianças e uma visão da morte instantânea e arrebatadora; animação muito riscada e psicanalizada de uma vida curta; outra ainda que já não me recordo e termina com um conto de kafka pensado por japonês, novamente a trágica sur(-)realidade. Hoje, à continuacion, Museu do Oriente.
(a imaginação/tecnologia são coisas fantásticas; mas o cenário pode ser cada vez mais real...)
Afinal o Catatau Tem um Blog...
É a gozar, mas até é engraçado imaginá-lo atrás do écran a escrever posts daquela natureza... a abraçar-nos a todos!
Já editados os seus melhores comentários!
(falando em edições, quem tem duas páginas que parecem um blog é o sr. Paulo Teixeira Pinto, em análises lógicas e profundas com o toque certo de poesia própria, filosofias de poder e ditos alheios actuais; o artigo/post Dicionário de Português-Português sobre o 25 de Abril delata os exageros da liberdade e conclui com as nossas pequenezes - ainda bem que o meu irmão compra o DN ao sábado!)
15.05.08 - 07.13 / 07.52h: History Repeats ITself
(Aviso sobre Conteúdos, blá, blá, blá..., qualquer semelhança com a realidade... é pura ficção erótica!)
Miracles
Atalho por alvalade, estrada com troço de calçada, torrão; boleia a comum desempregado com ar de agarrado até alcácer em curvas no meio do nada. A lisboa, apenas para entregar acto isolado. Começam as rodadas de amigos por telefonemas. Esplanar na brasileira com ding ling (que tal o cd?), mário alto de trolley, libelinha agrilhoado troca perca de carta por serviço comunitário. E no quarenta e um forma-se o círculo com o ex-namorado de mão lixada, açores e suiça. À espera de psicoactivos, vemos a amy em concerto, aos beijos na sala vermelha – concretizam-se as coincidências anteriores - até nos fartarmos.
Ainda circuito de fuga ao álcool até aos subúrbios, regresso ao bairro para seguir décio de scooter até à travessa do meio do forte. Uma hora para abrir duas portas, mais o revistar da casa do celso (que não revejo à meia década) em busca de preservativos. Sexo bom e carinhoso, penetrar e beijar ao mesmo tempo, castelo e graça com vista da casa de banho, mártires da pátria do quarto e corredor. Dormir abraçado a alguém...
Memórias intermitentes, boleia rolante à chuva com mochila no meio, chocho atabalhoado e fugaz, já sem trânsito até casa.
Night Two
Mesmo bar, agora com carmo depois do jantar, com as justificações da demissão, de vento em popa no mondego e ria formosa. Mesmos personagens, acompanho-a ao golf. Volto para purificar-me até ao abandono total. Good Night, Irene (perder tempo é divertido! – só boas frases dos diálogos do filme na sua propaganda a negro) – vejo-a! Espalham-se freneticamente cartazes nas esquinas, na hora de saída. Viro no século, passo o trabalho do mano e peço para entrar no prédio verde. A laurie anderson chama-me (X=X), bebida, bloco e cinzeiro. Imagens sobrepostas de filmes antigos, projectadas no redor de paredes brancas; Jim morrison (the end) carrega os putos fashion do bar, o gainsbourg ama-os (i go and i come, you come and you go... skin to skin), zuvi-zeva-novi.
Automático até... (it's raining, man!) ao antro. Show sem débora crystal assistido na parceria de L que agora vive por ali, re-encontro mais gente do antigamente. Popers e joints alucinam a dança. Saio e caminho calmamente em passerelle até à rotunda central (no quarto piso subterrâneo fica o parque de viaturas rebocadas pela polícia). Enquanto amanhece vou escrevendo estes dizeres na esperança do metro para casa. Do lusco-fusco sai uma figura que se move por entre as barraquinhas da feira do livro; fecho o moleskino devagar e mamo o mulato devagar enquanto ele filma, faço-lhe um profundo botão e continuo até à sua ejaculação na minha cara. Compara-me com o tarantino e explica que a sua namorada ainda não aprendeu a fazer assim. Cumprimento dread, lavo o rosto no aspersor (que desperdícioperante o manto cinzento que nos cobre) e apanho o primeiro da manhã. Cool.
Miracles
Atalho por alvalade, estrada com troço de calçada, torrão; boleia a comum desempregado com ar de agarrado até alcácer em curvas no meio do nada. A lisboa, apenas para entregar acto isolado. Começam as rodadas de amigos por telefonemas. Esplanar na brasileira com ding ling (que tal o cd?), mário alto de trolley, libelinha agrilhoado troca perca de carta por serviço comunitário. E no quarenta e um forma-se o círculo com o ex-namorado de mão lixada, açores e suiça. À espera de psicoactivos, vemos a amy em concerto, aos beijos na sala vermelha – concretizam-se as coincidências anteriores - até nos fartarmos.
Ainda circuito de fuga ao álcool até aos subúrbios, regresso ao bairro para seguir décio de scooter até à travessa do meio do forte. Uma hora para abrir duas portas, mais o revistar da casa do celso (que não revejo à meia década) em busca de preservativos. Sexo bom e carinhoso, penetrar e beijar ao mesmo tempo, castelo e graça com vista da casa de banho, mártires da pátria do quarto e corredor. Dormir abraçado a alguém...
Memórias intermitentes, boleia rolante à chuva com mochila no meio, chocho atabalhoado e fugaz, já sem trânsito até casa.
Night Two
Mesmo bar, agora com carmo depois do jantar, com as justificações da demissão, de vento em popa no mondego e ria formosa. Mesmos personagens, acompanho-a ao golf. Volto para purificar-me até ao abandono total. Good Night, Irene (perder tempo é divertido! – só boas frases dos diálogos do filme na sua propaganda a negro) – vejo-a! Espalham-se freneticamente cartazes nas esquinas, na hora de saída. Viro no século, passo o trabalho do mano e peço para entrar no prédio verde. A laurie anderson chama-me (X=X), bebida, bloco e cinzeiro. Imagens sobrepostas de filmes antigos, projectadas no redor de paredes brancas; Jim morrison (the end) carrega os putos fashion do bar, o gainsbourg ama-os (i go and i come, you come and you go... skin to skin), zuvi-zeva-novi.
Automático até... (it's raining, man!) ao antro. Show sem débora crystal assistido na parceria de L que agora vive por ali, re-encontro mais gente do antigamente. Popers e joints alucinam a dança. Saio e caminho calmamente em passerelle até à rotunda central (no quarto piso subterrâneo fica o parque de viaturas rebocadas pela polícia). Enquanto amanhece vou escrevendo estes dizeres na esperança do metro para casa. Do lusco-fusco sai uma figura que se move por entre as barraquinhas da feira do livro; fecho o moleskino devagar e mamo o mulato devagar enquanto ele filma, faço-lhe um profundo botão e continuo até à sua ejaculação na minha cara. Compara-me com o tarantino e explica que a sua namorada ainda não aprendeu a fazer assim. Cumprimento dread, lavo o rosto no aspersor (que desperdícioperante o manto cinzento que nos cobre) e apanho o primeiro da manhã. Cool.
12.05.08 - 15.36h: Um tal de Júlio...
Myanmar, Fátima, Etna, Sichuan, o Rocío, o Diabo...
Inspirado por todos, o que também me passa, nestes dias de insatisfação intrínseca... (tradução livre do espanhol-argentino), em papel ou digital, whatever!
“Como não só escreve como também gosta de passar-se para o outro lado e ler o que escrevem os outros, Lucas por vezes surpreende-se com o difícil que lhe resulta entender algumas coisas. Não é que sejam questões particularmente abstrusas (palavra horrível, pensa Lucas que tende a pesá-las na palma da mão e a familiarizar-se ou a afastá-las consoante a cor, o perfume ou o tacto), mas de repente, há como que um vidro sujo entre ele e o que está a ler, de onde impaciência, releitura forçada, bronca à entrada e, no final, grande vôo da revista ou livro até à parede com subsequente queda e húmido plof.
Quando as leituras terminam assim, Lucas pergunta-se que diabo pôde ocorrer na aparentemente óbvia passagem do comunicante ao comunicado. Perguntar isso custa-lhe muito, porque no seu caso, jamais se põe essa questão e por mais rarefeito que esteja o ar da sua escrita, por mais que algumas coisas possam apenas vir e chegar no final de difíceis transcursos, Lucas nunca deixa de verificar se a vinda é válida e se a passagem se opera sem obstáculos de maior. Pouco lhe importa a situação individual dos leitores, porque crê numa medida misteriosamente multiforme que, na maioria dos casos, cai como um traje de bom corte, e por isso não é necessário ceder terreno nem na vinda nem na ida: entre ele e os outros dar-se-á uma ponte sempre que o escrito nasça de semente e não de enxerto. Nas suas mais delirantes intervenções, há, por sua vez, algo tão simples como o jogo do burro ou a bisca dos três. Não se trata de escrever para os outros senão para si mesmo, mas um mesmo tem que ser também os outros; tão elementar, meu caro Watson, que pela desconfiança, pergunta se não haverá uma demagogia inconsciente nessa corroboração entre remetente, mensagem e destinatário. Lucas olha na palma da sua mão a palavra destinatário, acaricia-lhe a pelagem e devolve-a ao seu limbo incerto; pouco lhe importa que destinatário tem, assim, no instante, escrevendo o que ele lê e lendo o que ele escreve, que se dane.”
Julio Cortázar – Un tal Lucas, 1979
(esta amostra de Terre d'Hermès deixou-me inebriado - só se fôr de vez em quando - ainda bem que as açucenas só florescem uma vez por ano, um cacho por pé...)
Inspirado por todos, o que também me passa, nestes dias de insatisfação intrínseca... (tradução livre do espanhol-argentino), em papel ou digital, whatever!
“Como não só escreve como também gosta de passar-se para o outro lado e ler o que escrevem os outros, Lucas por vezes surpreende-se com o difícil que lhe resulta entender algumas coisas. Não é que sejam questões particularmente abstrusas (palavra horrível, pensa Lucas que tende a pesá-las na palma da mão e a familiarizar-se ou a afastá-las consoante a cor, o perfume ou o tacto), mas de repente, há como que um vidro sujo entre ele e o que está a ler, de onde impaciência, releitura forçada, bronca à entrada e, no final, grande vôo da revista ou livro até à parede com subsequente queda e húmido plof.
Quando as leituras terminam assim, Lucas pergunta-se que diabo pôde ocorrer na aparentemente óbvia passagem do comunicante ao comunicado. Perguntar isso custa-lhe muito, porque no seu caso, jamais se põe essa questão e por mais rarefeito que esteja o ar da sua escrita, por mais que algumas coisas possam apenas vir e chegar no final de difíceis transcursos, Lucas nunca deixa de verificar se a vinda é válida e se a passagem se opera sem obstáculos de maior. Pouco lhe importa a situação individual dos leitores, porque crê numa medida misteriosamente multiforme que, na maioria dos casos, cai como um traje de bom corte, e por isso não é necessário ceder terreno nem na vinda nem na ida: entre ele e os outros dar-se-á uma ponte sempre que o escrito nasça de semente e não de enxerto. Nas suas mais delirantes intervenções, há, por sua vez, algo tão simples como o jogo do burro ou a bisca dos três. Não se trata de escrever para os outros senão para si mesmo, mas um mesmo tem que ser também os outros; tão elementar, meu caro Watson, que pela desconfiança, pergunta se não haverá uma demagogia inconsciente nessa corroboração entre remetente, mensagem e destinatário. Lucas olha na palma da sua mão a palavra destinatário, acaricia-lhe a pelagem e devolve-a ao seu limbo incerto; pouco lhe importa que destinatário tem, assim, no instante, escrevendo o que ele lê e lendo o que ele escreve, que se dane.”
Julio Cortázar – Un tal Lucas, 1979
(esta amostra de Terre d'Hermès deixou-me inebriado - só se fôr de vez em quando - ainda bem que as açucenas só florescem uma vez por ano, um cacho por pé...)
ID
Eu sou o passageiro, é a minha vida, único pertence que me leva para onde quero ir (mesmo que não saiba). Uma simples homenagem escrita pelas letras da sua matrícula, dez anos antes de o ter – escolhémo-nos há muito tempo atrás, Freud que o diga...
Impulso desejado
Inspiração duradoura
Intersecção direccionada
Inovação deontológica
Inerência democrática
Irrelevante desastre
Imortalidade dourada
Identidade delineada
Subscrever:
Mensagens (Atom)