16.05.08 - 13.12h: Lisboa, Menina e Moço I


Ilustração de Marcos Oliveira

Ontem foi folga da ana. Em mais um dia estremunhado, vou buscá-la na sua calçada depois de muitos transportes matinais para vermos bonecos (eu já explico). Spinning around inicial: avenida do almirante, londres e roma, virando na monumental estátua do padroeiro, infiltrando-nos nos bairros do estado novo. Sob o guarda-chuva da missão – presidência portuguesa do conselho da união europeia – de cabo cor-de-laranja e logotipo pago, lanchamos na tatu da aldeia, falamos da propensão humana para a empatia, passeamo-nos nas entre-ruelas, aguardando a pipa. Mais gatos, vemos abordagens estúpidas em séries juvenis e os avanços da vida. Já tetra-hidra-canabinados, circulamos inversamente até à alameda do fundador deste país: um miradouro inesperado sobre a fonte luminosa desperta-nos pela luz mortiça e aguaceiro miudinho com vista para o técnico. Descemos a escadaria, e uma atracção da infância leva-nos à descoberta de um playground para crescidos – oferecemo-nos alegria, memória e movimento, às voltas com o nosso corpo, suspensos no tempo. Jantamos debaixo do império e seguimos para o Maria Matos.

Queríamos o programa do júri – os melhores do animateka – no king, mas o prazer leva-nos à competição 03: a surpresa inicial de uma obra gráfica a preto e branco, de sequências sugestivas de sons sobre o coração da cidade e a sua sombra – becos e escadinhas levam o Homem por tascas sujas de fado, os carris acalcetados do eléctrico e o ruído dos cabos, as noites perdidas terminam nas mecânicas tipográficas e ardinas com boas novas, silvos e travessa ondulante do tejo num cacilheiro matinal – pelo meio uma pequena parábola com lua viajante em sonhos de meninos. Segue: um conto zen em russo para apresentar a vizinha coreia - primeiro plasticina, depois ilustração de recorte – do medo engrandecido do não ter à dádiva do partilhar até à eternidade; dois episódios de terror cómico sobre os riscos do próprio monstro, alertando para o perigo da insónia em frente ao televisor; num estilo oliveirista, uma cadência calma, sugestiva, aquática e muito feminina... sensualidade apresentada pela própria autora presente no público; uma portuguesa brinca com a imagética da palavra no discurso visual; uma espiral de rituais quotidianos e objectos a girar num vazio-vácuo aceleram, caricaturizando o destino final em escalada de caos e violência; humor negro atingindo as crianças e uma visão da morte instantânea e arrebatadora; animação muito riscada e psicanalizada de uma vida curta; outra ainda que já não me recordo e termina com um conto de kafka pensado por japonês, novamente a trágica sur(-)realidade. Hoje, à continuacion, Museu do Oriente.




(a imaginação/tecnologia são coisas fantásticas; mas o cenário pode ser cada vez mais real...)

4 comentários:

Special K disse...

Ando mesmo a leste da cultura cinéfila lisboeta; nem Indie nem o Monstra. e desta vez não foi falta de tempo, foi preguiça mesmo.
Um abraço.

João Roque disse...

Sempre nas deambulaçõe diurnas/nocturnas por esta Lisboa que nunca se esgota para ti e que acaba num festival que junto a outros que vão aparecendo, acabam por dar uma certa aura cultural à nossa cidade,
Abraço.

Catatau disse...

Passeio de Domingo. ;)

Se alguém pudesse fotografar e pincelar de cores aqui e além os teus trajectos contados, tinha animações laureadas. Curtas e boas.

Moi disse...

Ah, preguiça, esse pecado vagaroso que corrompe todas as vontades... Eu também só fui porque calhou... e insisti. Abraço, K.

É, a minha vida dava um festival, de cinema, da canção, mas principalmente animação! Um grande abraço, Pinguim.

E domingo é só amanhã. Laurear. laurear é mais a pevide!!!
Abraço apertado, catatau.

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