* Texto compelido pela traição carnal do objecto da paixão platónica numa cama habitada por quatro elementos totalmente ébrios...
Se as emoções irrompem violentamente, tu abáfa-las debaixo dos lençois e finges dormir.
Se tens medo do que possas fazer depois, escondes a cabeça entre as pernas e regressas ao ventre.
Cada batida prolonga o ritmo das ancas e dos movimentos abdominais. Cada gemido de prazer arranca-te a pele e rouba-te a alma. Os lábios que se descolam cravam saliva que, como veneno, embriaga, enebria.
Nada do que o rio levar voltará a reaparecer. Sucumbirá à força das águas que suga todos os membros.
Ao calor irradiante aproximam-se as almas que abandonam a razão e expõem-se sobre os leitos, entregando olhares na sua pra expressão. Esquecem as vidas e entram num limbo povoado de cheiros e névoas.
Todos os punhais que trespassaram a minha carne sumiram-se nos séculos e continuam a trazer a profunda dor da perda a cada regresso.
Como se o sangue escorresse para sempre pelo meu peito e criasse outro mar onde todas as criaturas vivas morrem em sádicos decepares e gritos agudos.
Uma atroz agonia que projecto nessa imensidão de líquido de cada vez que as pequenas coisas me fazem sofrer. Na errância nocturna, como um peregrino por ruelas, jardins e pensões, deixo leves marcas que o vento perde nas planícies longuínquas dos desertos e glaciares.
Deixa-te ficar, bebe mais um copo, faz outra sopa que o dia ainda está a meio. Cobre-te e aquece-me, come-me e vomita-me logo pois a digestão não é tão fácil como parece.
É entre equívocos e ilusões que estão os fragmentos das existências. Nos espelhos que reflectem uma luz disforme, surgem todos os rostos que incendeiam as memórias e nos levam a descobrir as faces da lua.
Na sucessão intensa de imagens percebem-se beijos, risos, surpresas, corpos, olhares, lágrimas, desesperos e um ímpeto que surge como a a linha da vida. Os dias perdem a forma, o tempo não faz sentido e todos os espaços desvanecem-se sob os teus pés.
Muda-se de máscara, pintamos outros cenários, encontramos mais figurantes que queiram pisar o nosso palco. E, sem saber, distribuímos papéis principais a outros otelos, mefistos e medeias.rasgamos os trajes que vestimos como novos e que deixámos apodrecer com o uso desgastante que lhes démos.
E voltamos à estrada, fazemos guerras contemporâneas e colocamos a paz posterior à morte. Os banquetes e orgias anestesiam-nos para aguentar o peso real desta saga. Com o que acreditamos, combinamos energias e modificamos os sentimentos.
Nada á certo. As dúvidas são as únicas certezas e agarramo-nos às possibilidades como tábuas de salvação que flutuam à deriva. Ao longe avistamos cidades e ilhas de que fugimos com medo que nos engulam de novo.
Percorremos estradas e labirintos, abrimos portas e janelas, defrontamo-nos com becos sem saída. Andamos, andamos, andamos, com a sensação de que já estivémos naqueles lugares imprevistos, mas já vistos.
(daqui foi feito um recital de poesia na faculdade, onde o próprio sujeito me ajudou na preparação de voz, em pleno cais de santa apolónia)
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